Descrição da Conferência

"Meu sonho é ver toda essa floresta protegida, porque nós sabemos que ela é a garantia do futuro dos povos que vivem ali. E não é só isso. Eu acredito que, em pouco tempo, a Amazônia poderá se transformar em uma região economicamente viável não só para nós, mas para o país, para toda a humanidade e para todo o planeta [...] Nós percebemos que, para garantir o futuro da Amazônia, tínhamos que encontrar uma maneira de proteger a floresta e, ao mesmo tempo, desenvolver a economia da região; a Amazônia não poderia ser transformada em uma espécie de santuário que ninguém pudesse tocar. Por outro lado, vimos que era importante parar o desmatamento que está ameaçando a Amazônia e a vida no planeta. Concluímos, então, que nossa alternativa deveria envolver a proteção da floresta, mas também incluir um plano para desenvolver a economia. Foi assim que surgiu a idéia das Reservas Extrativistas."

Luta pela Floresta: Chico Mendes, em suas próprias palavras
Londres:. Bureau da América Latina (1989)

Nos dias 5 e 6 de Novembro de 2009 o Centro de Estudos Latino-Americanos e o Programa do Meio Ambiente Global da Universidade de Chicago realizaram uma conferência interdisciplinar sobre "Política Ambiental, Movimentos Sociais e Ciência para a Amazônia Brasileira", com o objetivo de avaliar o papel dos projetos estruturais, movimentos sociais, ciência e tecnologia na região amazônica nos últimos vinte anos, bem como as oportunidades de desenvolvimento criadas pela ciência, pela tecnologia, pelo saber tradicional e pelos mercados para serviços ambientais, dentro de parâmetros de conservação da floresta.

Cientistas, políticos, antropólogos, economistas e líderes de organizações não-governamentais juntamente com a Universidade de Chicago, professores e estudantes debateram questões tais como: de que forma as esperanças acesas pelo relatório Bruntland, em 1987, pelo ativismo social-ambiental de Chico Mendes, até 1988, e pela Eco-92 no Rio de Janeiro, foram traduzidas em políticas eficazes; Quais foram as novas questões estratégicas cruciais que emergiram desde entao para resolver os problemas de pobreza, conservação florestal e desenvolvimento; e ainda sobre como as partes interessadas, estão agindo hoje em relação a estas questões.

Através das apresentações e das vibrantes trocas durante os períodos de discussão, os participantes analisaram as mudanças positivas e as deficiências na política. Particular destaque foi dado à crescente ênfase em soluções baseadas em economia de mercado para os problemas de conservação e desenvolvimento, e para o desafio de articular o saber tradicional com a ciência moderna, na construção de estratégias alternativas para a educação, saúde e desenvolvimento econômico.

A conferência foi organizada em torno de três tópicos gerais:

Painel 1 - Modelos de Desenvolvimento - Uma avaliação dos últimos 20 anos das Políticas Públicas para a Região Amazônica. Paradoxalmente, as políticas em vigor hoje na Amazônia são muito semelhantes às que foram implementadas durante a ditadura militar. Muito pouco mudou nessas políticas desde então, em contraste com as grandes mudanças ocorridas no mundo.

Painel 2 - Movimentos Sociais e o Legado de Chico Mendes para o Desenvolvimento Sustentável da Amazônia. Como conseqüência do estabelecimento de um governo popular no Brasil, os movimentos sociais reduziram significativamente suas atividades ou mudaram seus objetivos históricos. Na Amazônia, até recentemente, segurança territorial era o principal objetivo dos movimentos sociais. O que acontece agora que este objectivo foi atingido e quais são as agendas dos movimentos sociais atualmente?

Painel 3 - Ciência e tecnologia como Base para um Novo Modelo de Desenvolvimento para a Amazônia. Quais as oportunidades que a ciência e a tecnologia oferecem como base para um novo modelo de desenvolvimento que tem a floresta e os serviços ambientais que ela oferece como seu foco principal? Temas como mudanças climáticas, a valorização da biodiversidade e a captura e o armazenamento do carbono foram discutidos, sempre com atenção para o papel que o saber tradicional pode desempenhar.