Uma bibliografia comentada das leituras recomendadas

Allegretti, Mary.
2005. "Governança Ambiental na Amazônia brasileira:. Conservacionistas, desenvolvimentistas e Movimentos Sociais" Centro de Estudos Latino-Americanos da Universidade de Chicago. (Gravação de Áudio)

Os países em desenvolvimento enfrentam a difícil tarefa de assegurar o progresso econômico e redução da pobreza e ao mesmo tempo impedir a destruição dos recursos naturais. Esta tarefa é muitas vezes dificultada por políticas públicas copiadas dos países desenvolvidos, que não levam em conta as particularidades históricas, culturais e ambientais. Esta palestra examinou o papel dos movimentos sociais no desenvolvimento das políticas públicas que combinam o desenvolvimento econômico, proteção ambiental e justiça social, com particular ênfase sobre como conflitos de interesses entre os conservacionistas, desenvolvimentistas e movimentos sociais são conciliados.

Becker, Bertha K.
2005. "Geopolítica da Amazônia". Estudos Avançados, 19 (53): 71-86.

Becker oferece uma resposta nacionalista para os discursos ambientais convencionais sobre a região amazônica. Ela compreende o desenvolvimento da Amazônia contemporânea como a intersecção de três tendências. Primeiro, os agentes do capital global têm produzido um mercado internacional de conservação ambiental ("capital natural"), uma tendência contra a qual o Estado brasileiro deve proteger-se através da reafirmação da soberania territorial. Em segundo lugar, os militares dos EUA e seus aliados europeus têm rodeado a Amazônia com bases, necessitando a formação de uma aliança baseada no Mercosul que pode servir de contrapeso às potências estrangeiras. Terceiro, os padrões de migração interna brasileira mudaram. O crescimento da Amazônia não é mais alimentado por imigrantes de outras partes do país, em vez disso, a área possui suas próprias cidades, que coordenam a expansão da agricultura Amazônica. Flutuações no ritmo de destruição da floresta amazônica, portanto, refletem em grande parte, a mudança das lutas pelo controle dos recursos entre os atores regionais existentes, e não entre os novos imigrantes. Becker conclui que a Amazônia é hoje uma "floresta urbana", com uma grande população concentrada nos centros urbanos, e que as necessidades sociais dessa população devem ser levadas em conta no planejamento para o futuro ambiental da região.

Browder, John O., e Brian Godfrey.
1997. Cidades Floresta: Urbanização, Desenvolvimento e Globalização da Amazônia brasileira. New York: Columbia University Press.

Incorporando dados de toda a Amazônia brasileira, este livro apresenta uma extensa pesquisa sobre a "urbanização desarticulada" que a Amazônia tem sofrido desde o final da década de 70.

Cardoso, Ruth.
1988. Os Movimentos Populares no Contexto da Consolidacao da Democracia. Em A Democracia no Brasil, Reis, Fabio Wanderley e Guillermo O'Donnell, eds. São Paulo: Edições Vértice, pp 368-381.

Versão similar, publicada em Inglês como: 1992. Movimentos Populares no Contexto da Consolidação da Democracia no Brasil. Em Fazendo os Movimentos Sociais na América Latina: Identidade, Estratégia e Democracia, Escobar, Arturo e Alvarez, Sonia, eds. Boulder: Westview Press, pp 291-303.

Cardoso oferece um panorama geral do desenvolvimento dos "novos movimentos sociais" do Brasil nos anos finais do governo militar. Embora ela se concentre principalmente em movimentos urbanos, ela desenvolve um esquema genérico aplicável aos movimentos ambientalistas. De acordo com este esquema, os novos movimentos sociais são caracterizados pelo foco na produção de novas identidades políticas apresentadas como genéricas e homogêneas, uma orientação fundamental para o Estado como interlocutor, uma rejeição de filiações partidárias e uma valorização da "participação".

Cunha, Manuela Carneiro da, e Almeida, Mauro W. B. de.
2000. Povos Indígenas, Populações Tradicionais e Conservação da Amazônia. Daedalus 129, n º. 2: 315-338.

As alianças entre os povos tradicionais, ambientalistas, ativistas, sucursais de governos da Amazônia e os intelectuais têm sido muito importantes para a história recente da Amazônia e para a conservação da Amazônia contemporânea. No entanto, essas alianças são por vezes difíceis e muitas vezes incompreendidas. Este ensaio lança uma luz analítica e etnográfica sobre essas alianças e seus significados locais em comunidades tradicionais.

Hochstetler, Kathryn
A Evolução do Movimento Ambientalista Brasileiro e seu Papel Político. Em As Novas Políticas de Desigualdade na América Latina:. Repensando Participação e Representação, Douglas A. Chalmers et al., eds. New York: Oxford University Press, pp. 192-216.

Hochstetler investiga a evolução dos movimentos ambientalistas do Brasil que vão desde a década de 70 até o final dos anos 90, pela revelação dos vários aspectos das interações entre os militares, partidos políticos, movimentos populares e grupos comunitários ambientais, como a AGAPAN (Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural). Essa visão compara também, os vários diferentes papéis que os movimentos sociais podem assumir; por exemplo, alguns servem como uma "organização política informal", enquanto outros vêem a si mesmos como representantes diretos dos cidadãos. Uma comparação entre os movimentos ambientais nacionais, regionais e locais (Amazônia), demonstra como diferentes escalas e objetivos de análise afetam a forma como os movimentos ambientalistas brasileiros são caracterizados.

Pasquis, Richard; Valéria da Silva, Alessandra; Weiss, Joseph e Machado, Luciana.
2005, jan/abril, 'Reforma Agraria' na Amazonia: Balanco e Persepctivas. Cadernos de Ciência & Tecnologia 22(1): 83-96.

Pasquis et al. resumem o processo de reforma agrária em áreas da Amazônia desde 1960. Sucessivos governos, argumentam eles, responderam à situação dos sem-terra não através da redistribuição de terra já possuida por grandes proprietários, mas sim, incentivando a "colonização" da floresta. Dois pressupostos dominantes foram as vigas mestras das políticas públicas de colonização: O primeiro, de que a Amazônia estava vaga ("uma terra sem homens") e, segundo, que a floresta precisava ser "integrada" à nação brasileira, por razões de segurança nacional. Muito embora as políticas de colonização foram mais fortemente associadas com o governo militar, foi este o paradigma da colonização que orientou o planejamento nacional, até o final da década de 90. Pasquis et al. alegam que o governo de Fernando Henrique Cardoso, motivado para alcançar objetivos quantitativos de reforma agrária, desproporcionadamente focou sua reforma na Amazônia, enviando 52% das famílias reassentadas para os assentamentos na região. Os assentamentos amazônicos, no entanto, se revelaram tipicamente difíceis para os pequenos agricultores gerenciarem e, portanto, experimentaram taxas de abandono extremamente elevadas. O resultado final foi um padrão de desmatamento por pequenos colonos, o esgotamento do solo e subsequente concentração de propriedade de terra nas mãos dos compradores secundários. Pasquis et al. notam uma mudança em direção a modelos ambientalmente sustentáveis para a reforma agrária no segundo mandato de Fernando Henrique Cardoso, com a implantação do Projeto de Assentamento Agroextrativista e Projeto de Modelos de Desenvolvimento Sustentável. O governo Lula almejou ampliar essa tendência, por "transversalmente", integrar o trabalho de diferentes ministérios, atuantes na Amazônia - particularmente Agricultura e Meio Ambiente - para produzir um modelo de assentamento ambientalmente amigável. Pasquis et al. encerram observando a possível contradição entre essa tendência e os esforços do governo Lula para promover o agronegócio.

Perreira, Anthony W.
1997. A crise do Desenvolvimentismo e do Movimento Sindical Rural no Nordeste do Brasil. Em As Novas Políticas de Desigualdade na América Latina: Repensando Participação e Representação, Douglas A. Chalmers et al., eds. New York: Oxford University Press, pp. 95-116.

Perreira problematiza a polaridade presumida entre as bases sindicais, organizações sociais ligadas ao estado como a Confederação dos Trabalhadores na Agricultura (CONTAG), e movimentos camponeses combativos, incluindo o Movimento Sem Terra (MST). O artigo utiliza o estado de Pernambuco como um exemplo para explicar como a modernização da agricultura e os programas sociais rurais originados durante o regime militar do do Brasil de 1964-1985, têm impactado significativamente uma polinização cruzada entre sindicatos tipicamente urbanos e movimentos de trabalhadores rurais.

Silva, Alberto Jorge da Rocha e Andrade, Laise de Holanda Cavalcante.
Significado cultural das plantas em comunidades localizadas na Zona da Mata Costeira do Estado de Pernambuco, Brasil. Ecologia Humana. 34 (3): 447-465.

Pesquisas sobre o desmatamento e as questões ambientais, frequentemente focam a Amazônia, no entanto, existem muitas outras regiões ecológicas que são importantes para o contexto brasileiro. Este estudo etnobotânico centra-se na Floresta da Zona Costeira em torno da metrópole de Recife, Pernambuco, no Nordeste do Brasil, que é o lar de muitas espécies endêmicas. Os pesquisadores entrevistaram moradores e aplicaram um índice de Significado Cultural para quantificar a importância das plantas nativas e não nativas na vida cotidiana dos participantes, sugerindo que esta unidade de medida pode ser utilizada em não-indígenas, contextos urbanos. O fato de que os participantes utilizam e sabem mais sobre plantas não-nativas demonstra algumas das repercussões sociais da indústria do açúcar e do desmatamento.

Schmink, Marianne.
Conflitos Fundiários na Amazônia. Etnólogo Americano. 9 (2): 341-357.

Schmink argumenta que os conflitos agrários não são um sintoma do caos social, mas são causados pelas contradições inerentes ao Estado brasileiro; paradoxalmente, enquanto o Estado alega representar a totalidade dos seus cidadãos, ele também funciona para preservar os interesses das classes dominantes. Durante a década de 70 Schmink realizou uma observação participante e entrevistou camponeses, investidores capitalistas / proprietários de terra e funcionários do governo na Amazônia, a fim de ilustrar os conflitos ideológicos que, infelizmente, ainda hoje, resultam em violência.

Hochstetler Kathryn, e Keck, Margaret E.
2007. Greening Brasil: Ativismo Ambiental no Estado e Sociedade. Durham: Duke University Press.

Greening Brasil traça o desenvolvimento do ativismo ambientalista no Brasil no final do século 20. A análise multi-nível de Hochstetler e Keck sobre a formação da política ambiental brasileira descreve as ações dos atores individuais, processos institucionais e as circunstâncias político-econômicas destacando a importância das redes interpessoais e profissionais. Os três primeiros capítulos do livro oferecem uma história geral do ambientalismo no Brasil. O quarto capítulo traz o foco para a Amazônia. Ele traça o desenvolvimento do ambientalismo Amazonense, das lutas dos seringueiros na década de 70 para o crescimento do sócio-ambientalismo nos anos 80, para uma crescente dependência nas redes de ONGs internacionais e no governo federal Brasileiro na década de 90 para mudanças mais recentes sob a administração do presidente Luiz Inácio "Lula" da Silva.

Zirker, Daniel e Marvin, Henberg.
1994. Amazônia: Democracia, Ecologia e Prerrogativas Militares Brasileiras na década de 1990. Forças Armadas e Sociedade 20, no. 2 (01 de janeiro): 259-281.

O militar brasileiro é um agente poderoso na Amazônia e um dos que muitas vezes entra em conflito com indígenas e movimentos ambientais. Uma compreensão abrangente sobre as políticas contemporâneas da Amazônia deve incluir uma análise do militar brasileiro. Este artigo revisa as políticas da Amazônia dentro do militarismo brasileiro e as políticas militares na Amazônia durante a "democratização" da década de 1990.