Bertha Becker
Geógrafa, Professora Emérita, UFRJ - Rio de Janeiro, RJ
A Ciência e a tecnologia frente a atuais projetos para o desenvolvimento da Amazônia
Devido as condições históricas e geográficas particulares, a Amazônia, até hoje, não está plenamente integrada nem desenvolvida, sendo foco de múltiplos conflitos de interesses. A atual crescente velocidade e imprevisibilidade das transformaçōes do planeta impedem a ciência de acompanhá-las no mesmo ritmo, apesar disso exigimos dela o esforço para identificar com clareza os projetos – explícitos ou implícitos – que estão em jogo para a região visando instruir a tomada de decisão política para a mudança social na Amazonia.
Neste trabalho propomos um projeto que coincide com a meta que nós atribuímos para ciência e impede as vicissitudes de outros projetos abrangentes desenvolvidos para a região. Infelizmente, tais projetos trazem danos colaterais significativos para a região. O primeiro desses projetos, por exemplo, defende que devemos manter a dinâmica atual da Amazônia, inserindo-a no mercado global com base no extrativismo mineral e madeireiro primário e na agropecuária capitalizada, mas não industrializada. Entretanto, como se sabe, isso é acompanhado de intenso desflorestamento e conseqüente expropriação de populações tradicionais e agroextrativistas.
No extremo oposto, situa-se propostas globais de preservação das florestas tropicais mediante financiamento direto para que não se desmate e envolvendo e mercantilização do carbono. Embora atraente, esta proposta não é a solução para o desenvolvimento regional porque em nada favorece as populações locais: os recursos seriam usufruídos pelos grandes proprietários e, sobretudo, as áreas de floresta seriam imobilizadas por isolamento produtivo sem possibilidade de gerar emprego e renda.
Propomos mudanças no atual padrão de desenvolvimento para produzir sem destruir, gerar riqueza, emprego e renda, mediante uma revolução científica e tecnológica que não se resume a inovações de produtos e processos, e que, necessariamente, promova uma reorganização institucional e respeite a diversidade sócio-ambiental. Esta proposta exige dos cientistas uma participação ativa na própria constituição dos mercados para produtos e serviços da natureza bem como na construção de um Projeto Nacional para a região.
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Bertha K. Becker é Professora Emérita da Universidade Federal do Rio de Janeiro, onde coordena o Laboratório de Gestão do Território. Bacharel e Licenciada em Geografia e História (Universidade do Brasil), realizou pós-doutorado como Professor Visitante no Department of Urban Studies and Planning do Massachutes Institut of Technology (E.U.A.). É pesquisadora Sênior do CNPq e Dr. Honoris Causa pela Universidade de Lyon III. Sua principal área de pesquisa é a Geografia Política do Brasil, particularmente da Amazônia. Foi vice-presidente da União Geográfica Internacional, ministrou cursos na França e no México, foi membro do Grupo Internacional Consultivo do Programa Piloto para Proteção das Florestas Tropicais Brasileiras e realiza consultorias para os Ministérios da Integração Nacional, da Ciência e Tecnologia e do Meio Ambiente. Tem inúmeros livros e artigos publicados. Foi agraciada pela American Geographical Society com a David Livingstone Centenary Medal, pela FAPERJ com a Medalha Carlos Chagas Filho e com a Ordem Nacional do Mérito Científico e a Ordem de Rio Branco.